Que foi este dilúvio, cujas violentas águas arrasaram a Terra?
Alguns explicam a inundação em termos de enchente anual na planície do Tigre-Eufrates. Tal inundação, supõe-se, deve ter sido particularmente rigorosa. Campos e cidades, homens e animais foram riscados do mapa pela elevação das águas; e povos primitivos, vendo o acontecimento como um castigo dos deuses, começaram a propagar a lenda de um dilúvio.
Num dos seus livros, Excavations at Ur [Escavações em Ur], Sir Leonard Wooley relata como, em 1929, já pelo fim do trabalho no Cemitério Real de Ur, os operários escavaram, através de uma massa de cerâmica e tijolos esmigalhados, um pequeno poço num morro vizinho. A um metro de profundidade, chegaram a um nível de lodo duro, normalmente o solo que marca o local onde a civilização começara. Mas podiam os milênios de vida urbana ter deixado apenas um metro de estratos arqueológicos? Sir Leonard orientou seus trabalhadores para escavarem mais profundamente. Eles desceram mais um metro, e depois ainda mais 1,5 metro. Trouxeram ainda "solo virgem", lodo sem nenhum traço de habitação humana. Mas depois de escavarem através de 3,40 metros de lodo seco e de material de aluvião, os trabalhadores chegaram a um estrato contendo peças de cerâmica verde partida e instrumentos de pedra. Uma civilização mais primitiva estava enterrada a 3,40 metros de profundidade de lodo!
Sir Leonard saltou para o poço e examinou a escavação. Chamou seus ajudantes e pediu-lhes suas opiniões. Nenhum tinha uma teoria plausível. Então, a esposa de Sir Leonard observou quase casualmente: "Claro, claro, é o dilúvio!”
Todavia, outras delegações arqueológicas lançaram dúvidas sobre esta maravilhosa intuição. O estrato de lodo que não continha nenhum traço de habitação indicava, realmente, a marca da inundação; mas, enquanto os depósitos de Ur e al-'Ubaid sugeriram inundações ocorridas entre os anos 3.500 e 4.000 a.C., um depósito similar desenterrado mais tarde em Kish foi estimado como sendo formado por volta do ano 2.800 a.C. A mesma data (2.800 a.C.) foi também estimada para o estrato de lama encontrado em Erech e em Shuruppak, a cidade do Noé sumério. Em Nínive, os escavadores encontraram, a uma profundidade de cerca de 18 metros, nada menos que treze estratos alternados de lodo e areia do rio, datando dos anos 4.000 a 3.000 a.C.
Assim, a maior parte dos estudiosos acredita que aquilo que Wooley encontrou são traços de diversas inundações locais, acontecimento freqüente na Mesopotâmia, onde chuvas torrenciais ocasionais e a elevação dos dois grandes rios e suas freqüentes mudanças de curso causam tal devastação. Todos os vários estratos de lodo, concluíram os estudiosos, não abrangiam a calamidade completa que deve ter sido o monumental evento pré-histórico do dilúvio.
O Antigo Testamento é uma obra-prima de brevidade e precisão literária. As palavras estão sempre bem escolhidas para traduzir significados precisos; os versículos são sempre a propósito; sua ordem é intencional; seu tamanho não é maior do que o absolutamente necessário. É digno de nota que a história completa da criação através da expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden seja contada em oitenta versículos. O registro completo de Adão e sua genealogia, ainda que contada separadamente para Caim e sua descendência e Set, Enos e suas respectivas descendências, é feito em 58 versículos. Mas a história da grande inundação mereceu nada menos que 87 versículos. Tratou-se, do ponto de vista editorial e seguindo um critério da mesma ordem, de uma "história principal". Não um mero acontecimento local, ele foi antes uma catástrofe afetando toda a Terra, todo o gênero humano. Os textos mesopotâmicos afirmam, claramente, que os "quatro cantos da Terra" foram afetados.
Como tal, foi um marco decisivo na pré-história da Mesopotâmia. Houve os acontecimentos, as cidades e o povo anteriores ao dilúvio e os acontecimentos, as cidades e o povo posteriores ao dilúvio. Houve todos os feitos dos deuses e a realeza que eles trouxeram dos céus antes da grande inundação, e o curso dos eventos divinos e humanos quando a realeza de novo desceu à Terra depois da grande inundação. O dilúvio foi o grande divisor do tempo.
Não só as abrangentes listas de reis sumérios, como também os textos relacionados com reis distintos e seus antecessores fizeram menção ao dilúvio. Um, por exemplo, pertencente a Ur-Ninurta, relembra o dilúvio como um acontecimento recuado nos tempos:
Naquele dia, naquele remoto dia,
Naquela noite, naquela remota noite,
Naquele ano, naquele remoto ano, -
Em que o dilúvio tivera lugar.
O rei assírio Assurbanipal, um patrono das ciências que reuniu a gigantesca biblioteca de barras de argila em Nínive, confessou numa de suas inscrições comemorativas que encontrara e pudera ler "inscrições de pedra do tempo anterior ao dilúvio”. Um texto acádio tratando dos nomes e suas origens explica que ele cataloga nomes "de reis de depois do dilúvio". Um rei é exaltado como sendo "da semente preservada de antes do dilúvio". Vários textos científicos citam como fontes "os vetustos sábios de antes do dilúvio".
Não, de fato, o dilúvio não foi nenhuma ocorrência local ou uma inundação qualquer periódica. Foi, por todos os cálculos, um acontecimento que abalou a Terra com uma grandeza sem paralelo, uma catástrofe cujas semelhanças nem o homem nem os deuses experimentaram antes ou vieram a experimentar desde então.
Os textos bíblicos e mesopotâmicos que examinamos até aqui deixam certos quebra-cabeças por solucionar. Qual foi a provação sofrida pela humanidade, a respeito da qual Noé foi chamado "Descanso" na esperança de que seu nascimento assinalasse o fim das agruras? Qual era o "segredo" que os deuses juraram guardar, e de cuja revelação Enki foi acusado? Por que o lançamento de um veículo espacial da cidade de Sippar foi o sinal dado a Utnapishtim para entrar e fechar a arca? Onde estiveram os deuses enquanto as águas cobriram até as mais altas montanhas? E por que se enterneceram eles tanto com a carne assada oferecida em sacrifício por Noé/Utnapishtim?
À medida que avançamos para encontrar as respostas a estas e outras questões, descobriremos que o dilúvio não foi um castigo premeditado e desencadeado pelos deuses por sua exclusiva vontade. Veremos que, embora o dilúvio fosse um acontecimento previsível, foi também algo de inevitável, uma calamidade natural na qual os deuses não desempenharam um papel ativo, mas sim passivo. Mostraremos também que o segredo que os deuses juraram guardar era uma conspiração contra a humanidade a intenção era sonegar aos terráqueos a informação que eles, deuses, tinham em relação à avalanche de águas que se aproximava para que, enquanto os Nefilim se salvavam, a humanidade perecesse.
Nosso conhecimento cada vez maior sobre o dilúvio e os acontecimentos que o precederam provém do texto "Quando os deuses como homens". Nele, o herói do dilúvio chama-se Atra-Hasis. No segmento do dilúvio da "Epopéia de Gilgamesh", Enki chamou a Utnapishtim "o excepcionalmente sensato", que em acádio se diz atra-hasis.
Os estudiosos especularam que os textos nos quais Atra-Hasis é o herói podiam ser partes de uma história anterior do dilúvio, de origem suméria. Com o correr do tempo, foram descobertas muitas barras babilônicas, assírias, cananitas e até sumérias originais para permitirem uma maior e mais perfeita reconstituição da epopéia, um primoroso trabalho creditado principalmente a W. G. Lambert e a A. R. Millard (Atra-Hasis: The Babylonian History of the Flood) [Atra-Hasis: A História Babilônica do Dilúvio].
Depois de descrever o árduo trabalho dos Anunnaki, seu motim e a subseqüente criação do trabalhador primitivo, a epopéia relata como o homem (como sabemos também pela versão bíblica) começou a procriar e a multiplicar-se. Com o tempo, o gênero humano começou a preocupar Enlil.
A terra expandiu-se, o povo multiplicou-se;
Na terra como touros selvagens eles descansam.
O deus ficou perturbado com suas combinações;
O deus Enlil ouviu suas sentenças,
E disse aos grandes deuses:
Opressiva se tornaram as sentenças da humanidade;
Suas combinações privam-me do sono.
Enlil, uma vez mais aparecendo como executor da humanidade, ordenou então um castigo. Devíamos esperar que agora se seguisse a vinda do dilúvio. Mas não. Surpreendentemente, Enlil não menciona sequer um dilúvio ou outra provação aquática. Em vez disso, ele exige a dizimação da humanidade pela peste e pelas doenças.
As versões acádias e assírias da epopéia falam de "dores, tonturas, tremores e febre", assim como de "doenças, indisposições, pragas e peste" afligindo a humanidade e seus rebanhos e da exigência de castigo imposta por Enlil. Mas o plano não deu resultado para Enlil. Aquele "que era excepcionalmente sensato", Atra-Hasis, era, por acaso, particularmente íntimo do deus Enki. Contando sua própria história, em algumas das versões, ele diz: "Eu sou Atra-Hasis, eu vivi no templo de Ea, meu Senhor". Com "a sua mente alerta para seu Senhor Enki", Atra-Hasis apelou para ele no sentido de frustrar o plano do seu irmão Enlil:
Ea, ó Senhor, os humanos gemem;
A ira dos deuses consome a Terra.
Ainda assim, foste tu quem nos criou!
Faz com que cessem as dores, as tonturas,
Os tremores, a febre!
Até que sejam encontradas mais peças das barras fraturadas, não saberemos qual foi o conselho de Enki. Ele diz sobre alguma coisa: ".. .deixa que apareça na terra". Seu pedido foi atendido. Pouco depois, Enlil queixou-se amargamente aos deuses que "o povo não tem diminuído de número; são mais numerosos que antes"!
Ele prosseguiu, então, planejando a exterminação da humanidade pela fome. "Que os mantimentos sejam retirados do povo; em suas barrigas, que eles anseiem por frutos e vegetais!" A fome devia ser provocada por causas naturais, pela falta de chuva e da deficiente irrigação.
Que as chuvas do deus da chuva sejam retidas no alto;
Embaixo, que as águas não nasçam em suas fontes.
Que o vento sopre e queime o solo,
Que as nuvens se condensem, mas retenham a queda da água.
Até as fontes de alimentação do mar deviam desaparecer: Enki recebeu ordens no sentido de "correr o ferrolho, trancar o mar" e "guardar" sua comida longe do povo.
Em breve, a estiagem começou a espalhar a devastação.
Do alto, o calor não...
Embaixo, as águas não nasciam de suas fontes.
O ventre da terra não gerava;
A vegetação não germinava...
Os campos negros fizeram-se brancos;
A larga planície estava entulhada de sal.
A escassez resultante causou a ruína entre o povo. As condições pioravam à medida que o tempo passava. Os textos mesopotâmicos falam de seis sha-at-tam's progressivamente mais devastadores - um termo que alguns traduzem como "anos", mas que literalmente significa "passagens” e, como esclarece o texto em assírio, "um ano de Anu":
Durante um shat-at-tam eles comeram a erva da terra.
No segundo shat-at-tam eles sofreram a vingança.
O terceiro shat-at-tam veio;
Suas figuras estavam alteradas pela fome,
Suas faces apresentavam crostas...
Viviam à beira da morte.
Quando o quarto shat-at-tam chegou,
Suas faces eram verdes;
Eles caminhavam arqueados nas ruas;
Seus largos [ombros?] tornavam-se estreitos.
À quinta "passagem", a vida humana começara a deteriorar-se. Mães trancavam as portas às suas próprias filhas esfomeadas. As filhas espiavam suas mães, procurando descobrir se tinham escondido alguma comida.
À sexta "passagem", o canibalismo era desenfreado.
Quando o sexto shat-at-tam chegou,
Eles prepararam a filha para uma refeição;
Prepararam a criança para comer...
Uma casa devorava a outra.
Os textos relatam a persistente intercessão de Atra-Hasis com seu deus Enki. "Na casa do seu deus... ele pôs os pé; todos os dias ele chorava, trazendo oblações de manhã... ele invocava o nome de seu senhor", procurando a ajuda de Enki para evitar a escassez.
Todavia, Enki deve ter-se sentido preso à decisão das outras divindades, porque, a princípio, não respondeu ao apelo. Muito possivelmente, escondeu-se mesmo do seu fiel adorador, deixando o templo abandonado e navegando em seus amados pauis. "Quando o povo vivia já nos limites da morte", Atra-Hasis "colocou seu leito de frente para o rio". Mas não houve nenhuma resposta.
A visão de uma humanidade faminta e desintegrando-se, de pais devorando os próprios filhos, trouxe finalmente o inevitável - outro confronto entre Enki e Enlil. À sétima "passagem", quando os homens e mulheres que restavam eram "como fantasmas dos mortos", eles receberam uma mensagem de Enki. "Façam grande barulho na região", disse ele. Enviou depois mensageiros para ordenar a todo o povo: "Não reverenciem vossos deuses, não rezem às vossas deusas". Deveria ter início a total desobediência!
Dissimulado e encoberto por total agitação social, Enki planejou ações mais concretas. Os textos, bastante fraturados neste ponto, revelam que ele convocou uma assembléia secreta de "anciães" no seu templo. "Eles entraram... eles fizeram conselho na Casa de Enki." A princípio, Enki recriminou-se a si próprio, contando aos outros deuses como se opusera aos atos da assembléia. Depois, esboçou um plano de ação; de um modo ou de outro, o certo é que estavam envolvidos seus poderes sobre os mares e o Mundo Inferior.
Podemos coligir os pormenores clandestinos do plano a partir dos versos fragmentários: "De noite... depois de ele..." alguém teria de estar "na margem do rio a uma certa hora", talvez para aguardar o regresso de Enki do Mundo Inferior. De lá, Enki "trouxe os guerreiros da água" - talvez alguns dos terráqueos, que eram trabalhadores primitivos nas minas. No tempo marcado, foram gritadas ordens: "Avançar!... a ordem...”
Apesar das linhas desaparecidas, podemos reunir o que se passara, a partir da reação de Enlil. "Ele encheu-se de raiva." Reuniu a assembléia dos deuses e mandou seu agente de polícia capturar Enki. Então, ergueu-se e acusou seu irmão de ter quebrado o segredo dos planos de vigia-e-retenção:
Todos nós, grandes Anunnaki,
Chegamos juntos a uma decisão...
Eu ordenei que no pássaro dos céus
Adad deveria guardar as regiões superiores;
Que Sin e Nergal deveriam guardar as regiões médias da Terra;
Que a fechadura, a tranca do mar,
Tu [Enkil] devias guardar com teus foguetes.
Mas tu liberaste provisões para o povo!
Enlil acusou o irmão de ter partido "a fechadura do mar". Mas Enki negou que aquilo acontecera com seu consentimento:
A fechadura, a tranca do mar,
Eu guardei com meus foguetes.
[Mas] quando... escaparam de mim...
Uma miríade de peixes... desapareceu;
Eles quebraram a fechadura...
Eles mataram o guarda do mar.
Ele argumentou que capturara os culpados e os punira, mas Enlil não estava satisfeito. Exigiu que Enki "parasse de alimentar seu povo", que não mais "lhes fornecesse rações de cereais, com as quais o povo se desenvolve". A reação de Enki foi assombrosa:
O deus ficou aborrecido com a sessão;
Na Assembléia dos Deuses,
O riso subjugou-o.
Podemos imaginar o pandemônio. Enlil estava furioso. Houve acaloradas discussões com Enki e muita gritaria. "Há calúnia na sua mão!" Quando a assembléia finalmente foi chamada à ordem, Enlil voltou a erguer-se. Lembrou aos colegas e subordinados que a decisão fora unânime. Passou em revista os acontecimentos que conduziram à criação do trabalhador primitivo e lembrou as muitas vezes que Enki "violara a regra".
Mas, disse ele, havia ainda uma possibilidade de aniquilar a humanidade. Uma "inundação mortal" estava ao largo. A catástrofe vindoura tinha de ser mantida em segredo rigoroso para o povo. Ele exigiu que a assembléia jurasse sigilo e, mais importante ainda, que se "comprometesse o príncipe Enki por juramento".
Enlil abriu sua boca para falar
E dirigiu-se à assembléia de todos os deuses:
Vamos, todos nós, e façamos um juramento
Referente à mortal inundação!
Anu foi o primeiro a jurar;
Enlil jurou; seus filhos juraram com ele.
A princípio, Enki recusou-se a prestar juramento. "Por que hão de comprometer-me com juramento?", perguntou ele. "Deverei eu erguer minhas próprias mãos contra os humanos?" Mas ele foi finalmente forçado a cumprir o juramento. Um dos textos afirma especificamente: "Anu, Enlil, Enki e Ninhursag, os deuses dos céus e da terra, prestaram juramento".
A sorte estava lançada.
Que era o juramento ao qual Enki estava ligado? Ao escolher interpretá-lo, Enki jurou não revelar o segredo do dilúvio vindouro ao povo; mas não poderia ele contá-lo a uma parede? Chamando Atra-Hasis ao templo, ele o fez sentar por detrás de um painel. Depois Enki fingiu que não falava com seu devoto terráqueo, mas com a parede. "Painel de juncos", disse ele.
Presta atenção às minhas instruções.
Em todas as habitações, sobre as cidades,
Uma tempestade passará veloz.
Será a destruição da semente da humanidade...
Esta é a ordem final,
A palavra da assembléia dos deuses,
A palavra proferida por Anu, Enlil e Ninhursag.
(Este subterfúgio explica a alegação posterior de Enki, quando foi descoberta a sobrevivência de Noé/Utnapishtim, sobre o fato de ele não ter quebrado seu voto. O "excepcionalmente sensato" [atra-hasis] terráqueo descobrira o segredo do dilúvio por si próprio, interpretando corretamente os sinais.) Descrições em selos mostram um servidor segurando o painel enquanto Ea, como o Deus Serpente, revela o segredo a Atra-Hasis.
O conselho de Enki ao seu fiel servidor foi o de construir uma embarcação adaptada à água; mas quando este último replicou, "Eu nunca construí um barco... esboça para mim um desenho no solo para que eu possa ver", Enki forneceu-lhe instruções precisas referentes ao barco, suas medidas e sua construção. Baseados nas histórias da Bíblia, imaginamos esta "arca" como um enorme barco, com convés e superestruturas. Mas o termo bíblico - teba - deriva da raiz "submerso", e devemos concluir que Enki deu instruções ao seu Noé para construir um barco submersível, um submarino.
O texto acádio cita Enki exigindo um barco com “telhado por cima e por baixo", fechado hermeticamente com "resina resistente". Não deveria haver convés, nem aberturas, "para que o sol não seja visto do interior". Devia ser "como um barco de Apsu", um sulili; este é o mesmo termo usado hoje em dia em hebraico (soleleth) para designar um submarino.
"Que o barco", disse Enki, "seja um MA.GUR.GUR" - "um barco que se pode virar e revirar". De fato, só um tal barco podia ter resistido à poderosíssima avalanche de águas.
A versão de Atra-Hasis, como as outras, reitera que, embora a avalanche estivesse apenas a sete dias de distância, o povo não tinha consciência de sua aproximação. Atra-Hasis serviu-se da desculpa de que a "embarcação de Apsu" estava sendo construída para que ele pudesse partir para o domicílio de Enki e assim evitar, talvez, a ira de Enlil. Esta desculpa foi prontamente aceita, porque as coisas estavam realmente más. O pai de Noé esperava que o nascimento de seu filho assinalasse o fim de um longo período de sofrimento. O problema do povo era a estiagem: a ausência de chuva e a conseqüente falta de água. Quem em seu perfeito juízo pensaria que todos aqueles seres estavam para perecer numa enorme avalanche de águas?
Ainda assim, se os humanos não podiam decifrar os sinais, os Nefilim podiam-no. Para eles, o dilúvio não foi um acontecimento repentino; embora inevitável, eles detectaram sua vinda. Seu plano de destruição da humanidade baseou-se não num papel ativo, mas passivo dos deuses. Eles não causaram o dilúvio - apenas foram coniventes na decisão de privar os terráqueos do conhecimento de sua aproximação.
Todavia, conscientes da iminente calamidade e do impacto global, os Nefilim tomaram medidas para salvar as próprias peles. Com a terra quase a ser engolida pela água, eles podiam seguir apenas uma direção para se protegerem: o céu. Quando a tempestade que precedeu o dilúvio começou a soprar, os Nefilim tomaram a nave de ida e volta e permaneceram em órbita até que as águas da terra começaram a diminuir de volume.
O dia do dilúvio, mostraremos, foi o dia em que os deuses fugiram da Terra.
O sinal pelo qual Utnapishtim tinha de esperar, ao qual devia reunir todos os outros na arca e fechá-la, era este:
Quando Shamash,
Que ordena um estremecimento ao crepúsculo,
Fizer cair uma chuva de erupções -
Sobe a bordo do navio,
Reforça a entrada!
Shamash, como sabemos, tinha a seu cargo o aeroporto espacial de Sippar. Não restam dúvidas no nosso espírito que Enki deu ordens a Utnapishtim para esperar pelo primeiro indício de lançamentos espaciais em Sippar. Shuruppak, onde Utnapishtim vivia, estava apenas a 18 beru (cerca de 180km) ao sul de Sippar. Uma vez que os lançamentos deviam acontecer ao anoitecer, não haveria dificuldade em ver "a chuva de erupções" que os foguetes partindo iriam "fazer cair".
Embora os Nefilim estivessem preparados para o dilúvio, sua vinda foi uma experiência assustadora: "O ruído do dilúvio... pôs os deuses a tremer”. Mas quando chegou o momento de deixar a Terra, os deuses “recuando, tremendo, subiram aos céus de Anu". A versão assíria da Atra-Hasis fala de deuses usando rukub ilani ("carro dos deuses") para escapar da Terra. "Os Anunnaki subiram", suas naves-foguetes, como tochas, "faziam a região resplandecer com seu brilho".
Orbitando a Terra, os Nefilim viram cenas de destruição que os perturbaram profundamente. Os textos de Gilgamesh contam-nos que, à medida que a tempestade crescia de intensidade, não só "ninguém podia ver seu companheiro", como "nem o povo podia ser reconhecido dos céus". Amontoados em suas naves, os deuses esforçavam-se para ver o que acontecia no planeta de onde acabavam de sair às pressas.
Os deuses, acovardados como cães,
Abaixaram-se de encontro à parede exterior.
Ishtar gritava como uma mulher dando à luz:
"Os vetustos dias foram infelizmente convertidos em argila..."
Os deuses Anunnaki choravam com ela,
Os deuses, humildes todos, sentavam-se chorando;
Seus lábios apertados... um e todos.
Nos textos de Atra-Hasis encontramos a repetição do mesmo tema. Os deuses escapavam e observavam simultaneamente a destruição. Mas a situação dentro de suas próprias embarcações não era também muito encorajadora. Com certeza, estavam divididos por várias naves espaciais; a barra no. 3 da epopéia de Atra-Hasis descreve as condições a bordo de uma nave em que alguns dos Anunnaki partilhavam os aposentos com a mãe-deusa.
Os Anunnaki, grandes deuses,
Estavam sentados, sedentos e famintos...
Ninti chorava e consumia sua emoção;
Ela chorava e aliviava seus sentimentos.
Os deuses choravam com ela pela Terra.
Ela estava subjugada pelo desgosto,
Tinha sede de cerveja.
Onde ela se sentava, sentavam-se os deuses chorando;
Agachados como carneiros num cocho.
Seus lábios estavam febris de sede,
Eles sofriam a sofreguidão da fome.
A própria deusa-mãe, Ninhursag, estava chocada com a violentíssima devastação. Ela deplorava o que se lhe deparava:
A deusa viu e ela chorava...
Seus lábios estavam cobertos de febre...
As minhas criaturas tornaram-se como moscas –
Elas encheram os rios como libélulas,
Sua paternidade foi levada pelo mar encapelado.
Podia ela, de fato, salvar a própria vida enquanto o gênero humano, que ela ajudara a criar, morria? Podia ela, realmente, abandonar a Terra, perguntava a deusa em voz alta:
Deverei eu subir aos céus,
Para residir na Casa das Ofertas,
Para onde Anu, o Senhor, ordenou que eu fosse?
As ordens para os Nefilim eram claras: abandonar a Terra, "subir aos céus". Era a época em que o Décimo Segundo Planeta estava mais próximo da Terra, nos limites do cinturão de asteróides ("céu"), como é evidenciado pelo fato de Anu ter a possibilidade de estar presente em ambas as conferências decisivas anteriores ao dilúvio.
Enlil e Ninurta - acompanhados talvez pela elite dos Anunnaki, aqueles que povoaram Nippur - estavam numa nave espacial planejando, sem dúvida, juntarem-se à nave principal. Mas os outros deuses não estavam assim tão determinados. Forçados a abandonar a Terra, compreenderam, de repente, como se envolveram com ela e com seus habitantes. Numa nave, Ninhursag e seu grupo debatiam os méritos da ordem dada por Anu. Numa outra, Ishtar gritava: "Os vetustos dias foram, infelizmente, convertidos em argila"; os Anunnaki que viajavam em sua nave "choravam com ela".
Enki encontrava-se obviamente numa outra nave espacial, ou, de outro modo, ele revelaria aos outros que conseguira salvar a semente da humanidade. Sem dúvida, ele tinha outras razões para se sentir menos deprimido, uma vez que as provas sugerem que ele também planejara o encontro em Ararat.
As antigas versões parecem sugerir que a arca foi levada para a região de Ararat unicamente pelas ondas torrenciais, e uma "tempestade do sul" conduziria certamente o barco para o norte. Mas os textos mesopotâmicos reiteram que Atra-Hasis/Utnapishtim levou consigo um "barqueiro" chamado Puzur-Amurri ("ocidental que conhece os segredos"). Para ele, o Noé mesopotâmico "passou a estrutura com todo o seu conteúdo" logo que a tempestade começou. Para que era preciso um navegador, a menos que ele tivesse de levar a arca até um destino muito específico?
Os Nefilim, demonstramos anteriormente, desde os primórdios usaram os picos de Ararat como pontos de referência. Sendo os mais altos naquela região do mundo, era de se esperar que fossem os primeiros a reaparecer de sob o manto de água. Como Enki, "o sensato, o onisciente", certamente tinha conhecimento disso, podemos depreender que instruiu seu servidor para guiar a arca para Ararat, planejando desde o início o encontro.
A versão de Berossus do dilúvio, tal como é relatada pelo grego Abydenus, declara: "Cronos revelou a Sisithros que haveria um dilúvio no décimo quinto dia de Daisios [o segundo mês] e ordenou-lhe que ocultasse em Sippar, a cidade de Shamash, todos os escritos disponíveis. Sisithros executou todas estas coisas, navegou imediatamente para a Armênia, e aí aconteceu o que o deus anunciara".
Berossus repete os detalhes a respeito da soltura de aves. Quando Sisithros (que é atra-hasis ao contrário) foi levado pelos deuses para seu domicílio, ele explicou ao povo que restou na arca, que eles estavam "na Armênia", e dirigiu-os de novo (a pé) para a Babilônia. Encontramos nesta versão não só o vínculo com Sippar, o aeroporto espacial, como também a confirmação de que a Sisithros fora ordenado que “navegasse imediatamente para a Armênia" - para a terra de Ararat.
Mal Atra-Hasis chegou, logo matou alguns animais e os assou numa fogueira. Não admira que os exaustos e esfomeados deuses “se reunissem como moscas sobre a oferenda". Subitamente, eles entenderam que a humanidade e a comida que eles faziam crescer e o gado que eles criavam eram essenciais. "Quando, por fim, Enlil chegou e viu a arca, ele estava indignado." Mas a lógica da situação e a persuasão de Enki levaram a melhor; Enlil fez tréguas com os sobreviventes da humanidade e levou AtraHasis/Utnspishtim em sua nave até o eterno domicílio dos deuses.
Outro fator de peso na rápida decisão de fazer as pazes com a humanidade pode ter sido a progressiva redução da inundação e o reaparecimento de terra seca e vegetação sobre ela. Concluímos já que os Nefilim tiveram aviso prévio da calamidade que se aproximava; mas o fato foi tão singular em sua experiência, que eles chegaram a recear que a Terra se tornasse inabitável para sempre. Quando chegaram a Ararat, viram que não era este o caso. A Terra era ainda habitável e, para nela viverem, eles precisavam de homens.
Que foi esta catástrofe, previsível mas inevitável? Uma importante chave para a decifração deste quebra-cabeça que é o dilúvio, é a compreensão de que ele não foi um acontecimento isolado e repentino, mas o auge de uma cadeia de acontecimentos.
Pestes invulgares afetando homens e animais e uma estiagem rigorosa precederam a provação pela água, um processo que durou, de acordo com as fontes mesopotâmicas, sete "passagens", ou shar's. Estes fenômenos só podem ser explicados por importantes mudanças climáticas. Tais mudanças devem ter estado associadas no passado da Terra com as periódicas idades do gelo e os estágios interglaciais que dominaram o passado imediato da Terra. Chuvas reduzidas, níveis decrescentes de mares e lagos e seca das fontes de água subterrânea foram os indícios de uma nova idade do gelo que se aproximava. Uma vez que o dilúvio, que terminou abruptamente com estas condições, fui seguido pela civilização suméria e pela nossa atual idade pós-glacial, a glaciação em causa só pode ter sido a última.
Nossa conclusão é que os acontecimentos do dilúvio se relacionam com a última idade do gelo da Terra e seu catastrófIco final.
Perfurando nos lençóis de gelo do Ártico e do Antártico, os cientistas puderam medir a quantidade de oxigênio contido nas várias camadas e avaliar o clima que dominava a Terra milênios atrás. Amostras recolhidas nas profundezas dos mares, tais como as do golfo Pérsico, medindo a proliferação e a degeneração da vida marinha, permitiram-lhes do mesmo modo estimar as temperaturas nas idades passadas. Baseados nestas descobertas, os cientistas estão agora certos de que a última idade do gelo começou há cerca de 75.000 anos, e que se registrou um mini-aquecimento há cerca de 40.000 anos. Há cerca de 38.000 anos, seguiu-se um período mais rigoroso, frio e seco. E depois, há cerca de 13.000 anos, a idade do gelo terminou abruptamente e o nosso clima ameno atual fez-se anunciar.
Comparando a informação bíblica e a suméria, descobrimos que os tempos inclementes, a "maldição" da Terra, começou na época do pai de Noé, Lamec. Suas esperanças de que o nascimento do filho, Noé ("descanso"), marcaria o fim das agruras foram correspondidas de modo inesperado, por meio do catastrófico dilúvio.
Muitos estudiosos acreditam que os dez patriarcas bíblicos pré-diluvianos (de Adão a Noé) têm, de um ou de outro modo, relação com os dez governantes pré-diluvianos das listas de reis sumérios. Estas listas não aplicam títulos divinos DIN.GIR ou EN aos dois últimos reis da lista de dez e tratam Ziusudra/Utnapishtim e seu pai Ubar-Tutu como homens. Eles encontram seu paralelo em Noé e em seu pai Lamec e, de acordo com as listas sumérias, reinaram um período total conjunto de 64.800 anos até a ocorrência do dilúvio. A última idade do gelo, de 75.000 até 13.000 anos atrás, durou 62.000 anos. Uma vez que as agruras começaram quando Ubar-Tutu/Lamec já reinava, os 62.000 ajustam perfeitamente aos 64.800 anos de reinado.
Além disso, as condições de extrema adversidade duraram, de acordo com a epopéia de Atra-Hasis, sete shar's, ou 25.200 anos. Os cientistas descobriram provas de um período extremamente rigoroso desde cerca de 38.000 até 13.000 anos atrás, ou seja, um período de 25.000 anos. Uma vez mais, as provas mesopotâmicas e os achados científicos modernos corroboram-se mutuamente.
Nosso empenho em decifrar o quebra-cabeça do dilúvio focaliza-se, pois, nas mudanças climáticas da Terra e, em particular, no abrupto colapso da idade do gelo há cerca de 13.000 anos.
Que poderia ter causado uma tão súbita mudança climática de tão grande magnitude?
Das muitas teorias aventadas pelos cientistas, ficamos intrigados com a sugerida pelo dr. John T. Hollin, da Universidade de Maine. Ele defendeu que o lençol de gelo do Antártico sofre uma quebra periódica e desliza para o mar, criando um abrupto e enorme macaréu!
Esta hipótese, aceita e elaborada por outros cientistas, sugere que, quando o lençol de gelo aumenta de espessura, não só retira mais calor da Terra sob o lençol de gelo, como cria também (por pressão e fricção) uma camada escorregadia e lamacenta em sua parte inferior. Agindo como lubrificante entre o espesso lençol de gelo sobre a terra sólida embaixo, esta camada lamacenta, mais tarde ou mais cedo, faz com que o lençol de gelo mergulhe, deslizando, no oceano circundante.
Hollin calculou que, se apenas metade do atual lençol de gelo da Antártida (que tem em média mais de 1,5km de espessura) deslizasse para os mares do sul, o imenso macaréu que se seguiria elevaria o nível de todos os mares à volta do mundo cerca de 18 metros, inundando todas as cidades costeiras e terras baixas.
Em 1964, A. T. Wilson, da Universidade de Vitória, na Nova Zelândia, apresentou uma teoria segundo a qual as idades do gelo teriam terminado abruptamente com estes desprendimentos de gelo não só no Antártico, como também no Ártico. Sentimos que os vários textos e fatos por nós reunidos justificam uma conclusão segundo a qual o dilúvio terá sido o resultado de tal deslize nas águas do Antártico de bilhões de toneladas de gelo, trazendo o fim abrupto para a última idade do gelo.
O acontecimento repentino desencadeou um imenso macaréu. Começando nas águas do Antártico, alastrou-se para norte em direção aos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico. A abrupta mudança de temperatura deve ter criado violentas tempestades acompanhadas por torrentes de chuva. Movendo-se mais rapidamente que as águas, tempestades, nuvens e céus obscurecidos foram o prenúncio da avalanche de águas.
Exatamente estes fenômenos são descritos nos textos antigos. Quando ordenado por Enki, Atra-Hasis mandou toda a gente para dentro da arca enquanto ele próprio esperava no exterior o sinal para subir a bordo e fechar a embarcação. Fornecendo um detalhe de "interesse humano", o antigo texto diz que Atra-Hasis, embora recebesse ordens para ficar fora da embarcação, "andava dentro e fora; ele não conseguia estar sentado, não podia baixar-se... seu coração estava despedaçado; ele vomitava fel". Mas então:
...A Lua desapareceu...
A aparência do tempo mudou;
As chuvas rugiram nas nuvens...
Os ventos tomaram-se selvagens...
...O dilúvio começou, seu poder caiu sobre o povo como uma batalha;
Uma pessoa não via a outra,
Não eram reconhecíveis na destruição.
O dilúvio mugia como um touro;
Os ventos relinchavam como um burro selvagem.
A escuridão era densa;
O Sol não podia ser visto.
A "Epopéia de Gilgamesh" é específica acerca da direção da qual proveio a tempestade: veio do sul. Nuvens, ventos, chuva e escuridão precederam, de fato, o macaréu que despedaçou primeiro os "postes de Nergal" no Mundo Inferior:
Com o brilho da aurora
Uma nuvem negra levantou-se no horizonte;
Dentro dela o deus de tempestade trovejava...
Tudo o que fora brilhante se tornou escuridão...
Durante um dia a tempestade do sul soprou,
Ganhando velocidade enquanto soprava, submergindo as montanhas...
Seis dias e seis noites sopra o vento
Enquanto a tempestade do sul varre a Terra.
Quando o sétimo dia chegou,
O dilúvio da tempestade do sul amainou.
As referências à "tempestade do sul", "vento sul", indicam claramente a direção da qual chegou o dilúvio, suas nuvens e ventos, os "mensageiros da tempestade" movendo-se "sobre montes e planícies" para alcançar a Mesopotâmia. De fato, uma tempestade e uma avalanche de água originando-se no Antártico chegariam à Mesopotâmia via oceano Índico depois de terem primeiro engolido os montes da Arábia e depois inundado a planície Tigre-Eufrates. A "Epopéia de Gilgamesh" informa-nos também que, antes de o povo e sua terra terem sido submersos, as "represas da terra seca" e seus diques foram "despedaçados"; as linhas de costa continentais foram ultrapassadas e apagadas.
A versão bíblica do dilúvio declara que "o estouro das nascentes do Grande Abismo" precedeu a "abertura das comportas do céu". Primeiramente, as águas do "Grande Abismo" (que nome descritivo para os mais meridionais e gelados mares da Antártida) separaram-se de sua prisão gelada; só depois é que as chuvas começaram a cair dos céus. Esta confirmação de nossa interpretação do dilúvio é repetida, ao inverso, quando ele amainou. Primeiro, as "Nascentes do Abismo [foram] retidas"; depois, a chuva "foi presa nos céus".
Depois do primeiro e imenso macaréu, as águas "iam e vinham" em gigantescas ondas. Depois, começaram a "retroceder" e "elas eram menos" depois de 150 dias, quando a arca chegou ao local de descanso entre os picos de Ararat. A avalanche de água, tendo vindo dos mares do sul, regressava aos mares do sul.
Como podiam os Nefilim predizer quando iria o dilúvio irromper subitamente da Antártida?
Os textos mesopotâmicos, sabemos nós, relacionavam o dilúvio e as mudanças climáticas que o precederam a sete "passagens" - o que significa indubitavelmente a passagem periódica do Décimo Segundo Planeta nas proximidades da Terra. Sabemos que até a Lua, o pequeno satélite da Terra, exerce uma força gravitacional suficiente para causar as marés. Tanto os textos mesopotâmicos como os bíblicos descrevem o estremecimento da Terra quando da passagem do celestial senhor nas proximidades da Terra. Terá sido possível que os Nefilim, observando as mudanças climáticas e a instabilidade do lençol de gelo da Antártida, concluíram que a próxima, a sétima, "passagem" do Décimo Segundo Planeta iria desencadear a iminente catástrofe?
Textos antigos mostram que assim foi.
O mais notável destes textos é um de cerca de trinta linhas inscrito em miniatura cuneiforme em ambos os lados de uma barra de argila com menos de 25,4 mm de comprimento. Tal texto foi desenterrado em Ashur, mas a profusão de palavras sumérias no texto acádio não deixa dúvidas quanto à sua origem suméria. O dr. Erich Ebeling concluiu que se tratava de um hino recitado na Casa dos Mortos, e assim incluiu o texto na sua grande obra (Tod und Leben) [Morte e Vida] acerca da morte e ressurreição na Mesopotâmia Antiga.
Num exame mais acurado, contudo, descobrimos que a composição "invoca os nomes" do celestial senhor, o Décimo Segundo Planeta. Aí se elaboram os significados dos vários epítetos relacionando-os com a passagem do planeta no local da batalha com Tiamat, uma passagem que causa o dilúvio.
O texto começa por anunciar que, por todo o seu poder e tamanho, o planeta ("o herói") não deixa, ainda assim, de orbitar o Sol. O dilúvio era a "arma" deste planeta.
A sua arma é o dilúvio;
Deus cuja arma traz a morte aos perversos.
Supremo, supremo, consagrado...
Quem como o Sol, a terra atravessa;
O Sol, seu senhor, ele assusta.
Evocando o "primeiro nome" de planeta, que, infelizmente, está ilegível, o texto descreve a passagem próximo de Júpiter, em direção ao local da batalha com Tiamat:
Primeiro Nome:...
Quem a faixa circular bateu e reuniu;
Quem dividiu a Ocupadora, atirou-a para longe.
Senhor, que no tempo Akiti.
No local da batalha de Tiamat repousa...
Cuja semente são os filhos da Babilônia;
Aquele que não é perturbado pelo planeta Júpiter;
Aquele que pelo seu esplendor criará.
Aproximando-se mais, o Décimo Segundo Planeta é chamado SHILIG.LU.DIG ("poderoso chefe dos alegres planetas"). Está agora o mais próximo possível de Marte: "Pelo brilho do deus (planeta) o deus Anu (planeta) Lahmu [Marte] está vestido". Depois ele solta o dilúvio sobre a Terra:
Este é o nome do Senhor
Que do segundo mês ao mês Addar
As águas convocara para avançar.
A elaboração no texto dos dois nomes oferece uma notável informação de calendário. O Décimo Segundo Planeta passou Júpiter e aproximou-se da Terra "no tempo Akiti", quando começa o ano-novo mesopotâmico. No segundo mês ele estava mais próximo de Marte. Depois, "do segundo mês até ao mês Addar" ("o décimo segundo mês"), ele soltou o dilúvio sobre a Terra.
Isto está em perfeita harmonia com o relato bíblico que afirma que a "nascente do grande abismo jorrou" no décimo sétimo dia do segundo mês. A arca veio descansar em Ararat no sétimo mês; mais terra seca foi visível no décimo mês; e o dilúvio estava terminado no décimo segundo mês, uma vez que foi no "primeiro dia do primeiro mês" dos anos seguintes que Noé abriu a escotilha da arca.
Passando para a segunda fase do dilúvio, quando as águas começaram a diminuir, os textos apelidam o planeta de SHUL.PA.KUN.E.
Herói, Senhor Supervisor,
Que reúne todas as águas;
Que fazendo jorrar as águas
Purifica os íntegros e os perversos;
Que na montanha de picos gêmeos
Prendeu a...
...Peixe, rio, rio; a inundação descansou.
Na terra montanhosa, numa árvore, um pássaro pousou.
Dia em que... disse.
A despeito da ilegibilidade de algumas linhas danificadas, os paralelos com os contos bíblicos e outros contos mesopotâmicos do dilúvio são evidentes: a inundação cessara, a arca estava "presa" na montanha de picos gêmeos; os rios começavam de novo a correr do topo das montanhas e a levar as águas de volta para os oceanos; avistavam-se já peixes; uma ave fora solta da arca. A provação terminava.
O Décimo Segundo Planeta passara a "travessia". Aproximara-se da Terra e começava a afastar-se, acompanhado por seus satélites:
Quando o sábio gritar: “Inundação!” -
É o deus Nibiru [“Planeta da Travessia”];
É o Herói, o planeta de quatro cabeças.
O deus cuja arma é a Tempestade Inundação,
Voltar-se-á para trás;
Para seu local de repouso ele baixará.
(O planeta que recuava, afirma o texto, voltava depois a atravessar a via de Saturno no mês de Ululu, o sexto mês do ano.)
O Antigo Testamento refere-se freqüentemente ao tempo em que o Senhor fez com que a Terra fosse coberta pelas águas do abismo. O salmo 29 descreve o "chamamento", assim como "o regresso" das "grandes águas" pelo Senhor:
Ao Senhor, vocês filhos dos deuses,
Dão glória, reconhecem poder...
O som do Senhor está sobre as águas;
O Deus de glória, o Senhor,
Trovejou sobre as grandes águas...
O som do Senhor é poderoso,
O som do Senhor é majestoso,
O som do Senhor quebra os cedros...
Ele faz o [monte] Líbano dançar como um bezerro,
O [monte] Sarião salta como um jovem touro.
O som do Senhor acende chamas de fogo;
O som do Senhor estremece o deserto...
O Senhor ao dilúvio [disse]: “Regressa!”
O Senhor, como rei, está no trono para sempre.
No majestoso salmo 77 - "Alto para Deus eu gritarei" - o salmista recorda o aparecimento do Senhor e seu desaparecimento em tempos anteriores:
Eu calculei os Vetustos Dias,
Os anos de Olam...
Eu lembrarei os feitos do Senhor,
Recordarei tuas maravilhas na antiguidade...
O teu curso, ó Senhor, está determinado;
Nenhum deus é tão grande como o Senhor...
As águas viram-te, ó Senhor, e arrepiaram-se de medo;
Tuas faíscas cortantes avançaram.
O som do teu trovão rolava;
Relâmpagos iluminaram o mundo;
A Terra estava agitada e tremia
[Então] nas águas estava teu curso,
Tuas vias eram nas profundas águas;
E tuas pegadas desapareceram, desconhecidas.
O salmo 104 exalta os feitos do senhor celestial, relembra o tempo em que os oceanos inundaram os continentes e foram obrigados a recuar:
Tu fizeste a Terra fixar-se com constância,
Para todo o sempre ficar imóvel.
Com os oceanos, como com vestes, tu a cobriste;
Acima das montanhas permaneceu a água.
A uma tua repreensão, as águas fugiram;
Ao som do teu trovão, elas partiram às pressas.
Foram para cima das montanhas, depois para baixo, para os vales,
Para o lugar que tu para elas criaste.
Uma fronteira para não ser ultrapassada, tu estabeleceste;
Para que elas não voltem a cobrir a Terra.
As palavras do profeta Amós são ainda mais explícitas:
Desgraçados de vós que desejam o Dia do Senhor;
Para que vos serve ele?
Porque o Dia do Senhor é escuridão e não luz...
Converte a manhã em sombra de morte,
Faz o dia escuro como noite;
Chama as águas do mar para avançarem
E verte-as sobre a face da Terra.
Estes eram, então, os acontecimentos que tiveram lugar “em vetustos dias". O "Dia do Senhor" era o dia do dilúvio.
Mostramos já que, aterrissando na Terra, os Nefilim associaram os primeiros reinos nas primeiras cidades com as idades zodiacais, dando aos zodíacos os epítetos de vários deuses associados. Sabemos agora que o textos descoberto por Ebeling forneceu informações de calendário não apenas para os homens, mas também para os Nefilim. O dilúvio, informa-nos o texto, ocorreu na "Idade da constelação de Leão":
Supremo, Supremo, Consagrado;
Senhor cuja brilhante coroa com terror é carregada.
Supremo planeta: um assento ele estabeleceu
À frente da confinada órbita do planeta vermelho [Marte].
Diariamente no Leão ele está incendiando;
Sua luz anuncia brilhantes realezas na Terra.
Podemos agora entender também um verso enigmático nos rituais de ano-novo, afirmando que era "a constelação de Leão que media as águas do abismo". Estas declarações fixam o tempo do dilúvio dentro de uma organização definida, porque, embora os astrônomos não possam hoje em dia assegurar precisamente o local em que os sumérios colocaram o início de uma casa zodiacal, a tabela das épocas que se segue é considerada bastante exata.
60 a.C. até 2.100 d.C. - Era de Peixes
2.220 a.C. até 60 a.C. - Era de Áries
4.380 a.C. até 2.220 a.C. - Era de Touro
6.540 a.C. até 4.380 a.C. - Era de Gêmeos
8.700 a.C. até 6.540 a.C. - Era de Câncer
10.860 a.C. até 8.700 a.C. - Era de Leão
Se o dilúvio ocorreu na Idade de Leão, entre os anos 10.860 a.C. e 8.700 a.C., então a data do dilúvio está dentro de nossa tabela. De acordo com a ciência moderna, a última idade do gelo terminou abruptamente no hemisfério sul há cerca de 12.000 a 13.000 anos e no hemisfério norte, 1.000 ou 2.000 anos mais tarde.
O fenômeno zodiacal de precessão oferece uma corroboração ainda mais integral de nossas conclusões. Concluímos anteriormente que os Nefilim aterrissaram na Terra 432.000 anos (120 shar's) antes do dilúvio, na Idade de Peixes. Em termos de ciclo precessional, 432.000 anos compreendem dezesseis ciclos completos, ou grandes anos, na "idade" da constelação do Leão.
Podemos agora reconstruir a tabela completa para os acontecimentos que nossas descobertas abrangem.
Anos atrás Acontecimentos
445.000 - Os Nefilim, conduzidos por Enki, chegam à Terra vindos do Décimo Segundo Planeta. Eridu - Estação Terra I - é fundada na Mesopotâmia do Sul.
430.000 - Os grandes lençóis de gelo começam a recuar. Clima acolhedor no Oriente Médio.
415.000 - Enki move-se para o interior, funda Larsa.
400.000 - O grande período interglacial se alastra globalmente. Enlil chega à Terra, estabelece Nippur como centro de controle da Missão. Enki estabelece rotas marítimas para a África do Sul, organiza operações de mineração de ouro.
360.000 - Os Nefilim estabelecem Bad-Tibira como seu centro metalúrgico de fusão e refinação. Sippar, o aeroporto espacial, e outras cidades dos deuses são construídas.
300.000 - O motim dos Anunnaki. O homem - o "trabalhador primitivo” - é criado por Enki e Ninhursag.
250.000 - "Precoce Homo sapiens" multiplica-se, espalha-se para outros continentes.
200.000 - A vida na Terra registra regressão durante o novo período glacial.
100.000 - O clima registra de novo um aquecimento. Os filhos dos deuses tomam as filhas do homem por esposas.
77.000 – Ubar-Tutu/Lamec, um humano de descendência divina, assume o reino em Shuruppak sob o patrocínio de Ninhursag.
75.000 - A "maldição da Terra", uma nova idade do gelo, começa. Tipos regressivos de homem deambulam pela Terra.
49.000 - O reino de Ziusudra ("Noé"), um "fiel servidor" de Enki, tem seu início.
38.000 - O rigoroso período climático das "sete passagens" começa a dizimar a humanidade. O Homem de Neanderthal da Europa desaparece; só o Homem do Cro-Magnon (estabelecido no Oriente Médio) sobrevive. Enlil, desiludido com a humanidade, procura sua morte.
13.000 - Os Nefilim, conscientes do iminente macaréu que seria desencadeado pela aproximação do Décimo Segundo Planeta, juram deixar perecer a humanidade. O dilúvio devasta a Terra, terminando abruptamente a idade do gelo.
A Realeza na Terra
O dilúvio, uma experiência traumatizante para a humanidade, não o foi menos para os "deuses", os Nefilim.
Nas palavras das listas de reis sumérias, "o dilúvio varrera tudo", e um esforço de 120 shar's foi arrasado de um momento para o outro. As minas da África do Sul, as cidades da Mesopotâmia, o centro de controle em Nippur, o aeroporto de Sippar - tudo jaz enterrado sob a água e a lama. Flutuando em sua nave de ida e volta por sobre a Terra devastada, os Nefilim aguardaram impacientemente a diminuição das águas para colocarem de novo pé em terra firme.
Como iriam eles sobreviver a partir de agora na Terra quando suas cidades e instalações tinham todas desaparecido, e até sua mão-de-obra, o gênero humano, estava totalmente destruída?
Quando os assustados, exaustos e famintos grupos de Nefilim finalmente aterrissaram nos picos do "monte da Salvação", ficaram nitidamente aliviados ao descobrir que homens e animais não pereceram por completo. Até Enlil, primeiro enraivecido por descobrir que seus objetivos foram parcialmente frustrados, depressa mudou de opinião.
A decisão da Divindade foi de ordem prática. Confrontados com suas próprias e medonhas situações, os Nefilim puseram de lado seus preconceitos em relação ao homem, arregaçaram as mangas e não perderam tempo em comunicar à humanidade as artes de cultivo de cereais e criação de gado. Uma vez que a sobrevivência dependia, sem dúvida, da velocidade com que a agricultura e a domesticação animal deviam ser desenvolvidas para mantê-los e promover uma rápida multiplicação do gênero humano, os Nefilim aplicaram seu avançado conhecimento científico à tarefa.
Não tendo consciência das informações que podiam ser selecionadas a partir dos textos bíblicos e sumérios, muitos cientistas que estudaram as origens da agricultura chegaram à conclusão de que sua "descoberta" pela humanidade há cerca de 13.000 anos estava relacionada com o clima neo-termal ("novamente quente") que se seguiu ao fim da última idade do gelo. Todavia, muito antes dos estudiosos modernos, a Bíblia relacionou também os começos da agricultura com as conseqüências do dilúvio. "Sementeira e colheita" eram descritas no Gênesis como as dádivas divinas concedidas a Noé e a sua descendência como parte do acordo pós-diluviano entre a Divindade e o gênero humano:
Porque enquanto houver dias na Terra,
Lá não cessará
A sementeira e a colheita,
O frio e o calor,
O verão e o inverno,
O dia e a noite.
Tendo-lhes sido legado o conhecimento da agricultura, "Noé foi o primeiro agricultor, e plantou uma videira": ele tornou-se o primeiro lavrador pós-diluviano envolvido na deliberada e complicada tarefa da plantação.
Também os textos sumérios atribuem aos deuses a concessão à h