Felizmente, podemos provar que um mu, um objeto cônico terminando em linhas ovais, estava realmente instalado no interior, no sagrado recinto fechado dos templos dos grandes deuses do céu e da terra. Uma moeda antiga, encontrada em Biblos (a Gebal bíblica) na costa mediterrânica do atual Líbano, representa o Grande Templo de Ishtar. Embora mostrado como se pertencesse ao 1º. milênio a.C., a exigência de que fossem construídos e reconstruídos templos sobre o mesmo local e de acordo com o plano original significa, sem dúvida, que vemos os elementos básicos do templo original de Biblos copiados de milênios mais cedo.
A moeda representa um templo composto de duas partes. Numa face da moeda está gravada a estrutura do templo principal, imponente com sua entrada de colunas. Por detrás dela há um pátio interior, ou "área sagrada", escondido e protegido por um alto e maciço muro. É nitidamente uma área elevada, uma vez que só se pode chegar a ela subindo vários lances de escadas.
No centro desta área sagrada está situada uma plataforma especial, cuja trave-mestra lembra a da Torre Eiffel, como que construída para suportar um enorme peso. E na plataforma está o objeto de toda esta segurança e proteção - um objeto que só pode ser um mu.
Tal como a maior parte das palavras silábicas sumérias, mu tinha um significado primário: "aquele que se ergue em linha reta". Suas trinta e tantas gradações de significado englobam "alturas", "fogo", "comando", "período contado", como também (em tempos posteriores) "aquele pelo qual alguém é lembrado". Se remontarmos no tempo à procura do sinal escrito para mu desde suas estilizações cuneiformes assírias e babilônias até a original pictografia suméria, vemos surgir a seguinte prova pictórica:
Vemos nitidamente uma câmara cônica representada separadamente ou com uma estreita seção ligada a ela. "De uma dourada 'câmara-no-céu' eu olharei por vocês", prometeu Inanna ao rei Assírio. Seria este mu a "câmara celestial"?
Um hino a Inanna/Ishtar e às suas jornadas no Barco dos Céus indica claramente que o mu era o veículo no qual os deuses deambulavam alto e longe pelos céus:
Senhora dos céus:
Ela enverga a veste celestial;
E corajosamente ascende até às alturas.
Por sobre todas as terras povoadas
Ela voa no seu MU.
Senhora, que no seu MU
Até às alturas do céu se levanta alegremente.
Sobre todos os locais de descanso ela voa no seu MU.
Há provas que mostram que o povo do Mediterrâneo Oriental avistou realmente tal objeto semelhante a um foguete não apenas no recinto do templo, mas em vôo real. Os glifos hititas, por exemplo, mostram de encontro ao fundo de um céu estrelado mísseis que se cruzam, foguetes montados em plataformas de lançamento e um deus no interior de uma radiante câmara.
O prof. H. Frankfort (Cylinder Seals) [Selos Cilíndricos], demonstrando como tanto a arte da fabricação dos selos cilíndricos mesopotâmicos e os assuntos neles representados se espalharam através do Mundo Antigo, reproduz o desenho de um selo encontrado em Creta e datado do século 13 a.C. O desenho do selo descreve claramente uma nave espacial movendo-se nos céus e propulsionada por chamas que escapam da sua retaguarda.
Os cavalos alados, os animais enlaçados, o globo celestial alado e a deidade com chifres salientes em seu toucado são todos temas mesopotâmicos conhecidos. Podemos certamente concluir que o foguete faiscante mostrado no selo cretense era também um objeto familiar ao longo de todo o antigo Oriente Médio.
De fato, um foguete com "asas" ou estabilizadores - alcançáveis por uma "escada" - pode ser visto numa barra escavada em Gezer, uma cidade da antiga terra de Canaã, a oeste de Jerusalém. A dupla impressão do mesmo selo mostra também um foguete pousado no solo ao lado de uma palmeira. O destino ou a natureza celestial dos objetos é atestado pelos símbolos do Sol, da Lua e das constelações zodiacais que adornam o selo.
Os textos mesopotâmicos que se referem aos recintos interiores sagrados dos templos ou às celestiais jornadas dos deuses, ou até a circunstâncias em que os mortais ascenderam aos céus, empregam o termo sumério mu ou seus derivativos semitas shu-mu ("aquilo que é um mu"), sham ou shem. Devido ao fato de o termo definir também "aquele pelo qual alguém é lembrado", a palavra acabou por significar "nome". Mas a aplicação universal de "nome" a remotos textos que falam de um objeto usado para voar obscureceu o, verdadeiro significado dos antigos registros.
Deste modo, G.A. Barton (The Royal Inscriptions of Summer and Akkad) [As Inscrições Reais da Suméria e da Acádia] estabeleceu a irrefutável tradução da inscrição do templo de Gudea - de "seu MU abraçará as terras de horizonte a horizonte" para "o seu nome encherá as terras". Da mesma maneira, um hino a Ishkur enaltecendo seu "MU emissor de raios" que podia atingir as alturas do céu é traduzido como segue: "Teu nome é radiante, alcança o zênite dos céus". Pressentindo, no entanto, que mu ou shem podem significar um objeto e não "nome", alguns eruditos trataram o termo como um sufixo ou fenômeno gramatical sem tradução, evitando deste modo a conclusão global.
Não é difícil recuar até a etimologia do termo e traçar a rota através da qual a "câmara do céu" assumiu o significado "nome". Foram encontradas esculturas que mostram um deus no interior de uma câmara em forma de foguete, como neste objeto de extrema antiguidade (agora em posse do Museu Universitário de Filadélfia) onde a natureza celestial da câmara é atestada pelos doze globos que a decoram.
Similarmente muitos selos representam um deus (e às vezes dois) dentro destas "câmaras divinas" ovais; em muitas circunstâncias, estes deuses dentro das suas sagradas ovais estão descritos como objetos de veneração.
Desejando adorar seus deuses através das terras, e não apenas na "casa" oficial de cada divindade, os povos antigos desenvolveram o costume de construir imitações do deus dentro da sua divina "câmara-do-céu". Pilares de pedra desenhados para dissimular o veículo oval foram erigidos em locais selecionados e a imagem do deus era gravada dentro da pedra para indicar que ele estava no interior do objeto.
Foi uma mera questão de tempo até que reis e governantes, associando estes pilares (chamados estelas) com a capacidade de ascender à residência celestial, começassem a gravar suas próprias imagens sobre as estelas como forma de se associarem eles próprios à residência celestial. Se eles não podiam fugir ao esquecimento físico, era importante que pelo menos seu nome fosse para sempre celebrado.
Mais adiante pode ser deduzido, a partir do termo pelo qual estas pedras eram conhecidas na Antiguidade, que o objetivo dos pilares de pedra comemorativos era o de representar uma atividade espacial de fogo. Os sumérios chamavam-lhes NA.RU ("pedras que se erguem"). Os acádios, babilônios e assírios chamavam-lhes naru ("objetos que lançam luz"). Os amurru apelidam-nos de nuras ("objetos de fogo") - em hebraico, ner significa ainda hoje um pilar que emite luz, ou seja, a popular vela. Nas línguas indo-européias dos hurritas e dos hititas, as estelas receberam o nome de hu-uashi ("pássaro de fogo de pedra").
Referências bíblicas indicam familiaridade com dois tipos de monumentos comemorativos, um yad e um shem. O profeta Isaías comunicou do seguinte modo ao povo sofredor da Judéia a promessa do Senhor de um futuro melhor e mais seguro:
E eu dar-lhes-ei,
Em minha casa e dentro de minhas paredes,
Um yad e um shem.
Traduzido literalmente e cumulando significados, isto queria dizer que a promessa do Senhor falava em fornecer a seu povo uma "mão" e um "nome". Felizmente, contudo, aprendemos, a partir de monumentos antigos chamados yad e que ainda se erguem da Terra Sagrada, que estes se distinguem por seus topos de forma piramidal. Os shem, por outro lado, eram memoriais de topo oval. Ambos, parece evidente, começaram como simulações da "câmara do céu", o veículo dos deuses para ascender à residência eterna. No Egito Antigo, de fato, os devotos faziam peregrinações a um templo especial em Heliópolis para ver e adorar o ben-ben - um objeto de forma piramidal no qual os deuses chegaram à terra em tempos imemoriais. Os faraós egípcios, à hora da morte, se submetiam a uma cerimônia de "abertura da boca", durante a qual supunha-se que eram transportados à divina residência da vida eterna por um yad ou um shem.
A persistência dos tradutores da Bíblia em empregar "nome" sempre que deparavam com o termo shem foi ignorada por um avançado estudo publicado há mais de um século por G.M. Redslob (in Revista da Sociedade Alemã Oriental), no qual ele corretamente salientou que o termo shem e o termo shamaim ("céu") derivam da palavra de raiz shamash, significando "aquilo que está para o céu". Quando o Antigo Testamento relata que o rei Davi "fez um shem" para marcar a vitória sobre os aramaicos, disse Redslob, ele "não fez um nome", mas edificou um monumento apontado para os céus.
A compreensão de que em muitos textos mesopotâmicos mu ou shem devia ser lido não como "nome", mas como "veículo do céu" abriu caminho para a compreensão do verdadeiro significado de muitos contos antigos, incluindo a história bíblica da Torre de Babel.
O livro do Gênesis, no capítulo XI, relata a tentativa dos humanos no sentido de levantarem um shem. O relato bíblico é feito em concisa (e precisa) linguagem que revela um fato histórico. No entanto, gerações de estudiosos e tradutores procuraram conceder à narrativa apenas um significado alegórico porque (tal como eles o entenderam) o conto dizia respeito à ânsia do gênero humano em "fazer um nome" para si próprio. Tal aproximação esvaziou o conto do seu significado factual. Nossa conclusão no que se refere ao verdadeiro significado de shem torna o conto tão rico em significado como o deve ter sido para os próprios povos da Antiguidade.
O conto bíblico da Torre de Babel trata dos acontecimentos que se seguiram ao repovoamento da terra depois do dilúvio, quando alguns dos povos "viajaram do leste, e encontraram uma terra plana na Terra de Shinar, e aí se estabeleceram".
A Terra de Shinar é, claro, a terra da Suméria, na planície entre os dois rios da Mesopotâmia do Sul. E o povo, já familiarizado com a arte da fabricação de tijolo e alta construção para uma civilização urbana, disse:
Construamos para nós uma cidade,
E uma torre cujo topo alcance os céus;
E façamos para nós um shem,
Para que não sejamos espalhados sobre a face da terra.
Mas este esquema humano não estava conforme os desejos de Deus.
E o Senhor desceu,
Para ver a cidade e a torre
Que os filhos de Adão erigiram.
E ele disse: Contempla,
Todos são como um povo com uma língua,
E isto é apenas o começo dos seus empreendimentos.
Agora, tudo o que eles planejarem fazer
Não mais lhes será impossível realizar.
E o Senhor disse (a alguns companheiros que o Antigo Testamento não nomeia):
Vinde, desçamos,
E uma vez lá, confundamos sua língua;
Para que eles não entendam a fala uns dos outros
E o Senhor espalhou-os dali
Por sobre a face de toda a terra,
E eles cessaram a construção da cidade.
Por isso o seu nome foi Babel,
Porque foi aí que o Senhor confundiu a língua da terra.
A tradução tradicional de shem por "nome" tornou o conto ininteligível durante gerações. Por que é que os antigos residentes de Babel - Babilônia - se empenharam em "fazer um nome", por que é que o "nome" teria de ser colocado no topo de uma "torre cujo cume tocará os céus", e como é que "a construção de um nome" poderia contrariar os efeitos da dispersão do gênero humano sobre a terra?
Se tudo o que aqueles povos queriam era fazer (como explicam os estudiosos) uma "reputação" para eles próprios, por que é que esta tentativa aborreceu tanto o Senhor? Por que é que a composição de um "nome" era considerada pela Divindade como um feito a seguir ao qual “tudo o que eles planejaram fazer, não mais lhes será impossível realizar"? As explicações tradicionais são certamente insuficientes para esclarecer por que o Senhor considerou necessário convocar outros deuses sem nome para descer à terra e pôr um fim a este esforço humano.
Acreditamos que as respostas para todas estas perguntas se tomam plausíveis, óbvias até, assim que lemos "veículo em direção ao céu" em vez de "nome" para traduzir a palavra shem, que é o termo empregado no texto original hebraico da Bíblia. A história trataria então da preocupação da humanidade com a dispersão dos povos sobre a face da terra, que resultaria numa perda de contatos entre si. Por isso, eles decidiram construir um "veículo em direção ao céu" e erigir uma "torre de lançamento" para tal veículo para que também eles, tal como, por exemplo, a deusa Ishtar, pudessem voar num mu "sobre todas as terras povoadas".
Uma parte do texto babilônico conhecido como a "Epopéia da Criação" relata que o "portão dos deuses" foi construído na Babilônia pelos próprios deuses. Aos Anunnaki, os deuses de condição inferior, foram dadas ordens para:
Construir o portão dos deuses...
Deixemos que seu trabalho de tijolo seja desenhado.
O seu shem será posto no lugar designado.
Durante dois anos, os Anunnaki afadigaram-se - "aplicaram as ferramentas... moldaram tijolos" - até que "levantaram até ao cume de Eshagila" ("casa dos grandes deuses") e "construíram a torre de andares tão alta como os Altos Céus".
Foi, portanto, um desaforo da parte da humanidade estabelecer sua própria torre de lançamento, criada originalmente para uso dos deuses, uma vez que o nome do local, Babili, significava literalmente "portão dos deuses".
Haverá mais provas que corroborem o conto bíblico e a nossa interpretação dele?
O sacerdote-historiador babilônico Berossus, que no século 3 a.C. compilou uma história da humanidade, relatou que “os primeiros habitantes da terra, ufanando-se de sua própria força... empreenderam erguer uma torre cujo 'topo' devia alcançar o céu". Mas a torre foi derrubada pelos deuses e por fortes ventos, "e os deuses introduziram uma diversidade de idiomas entre os homens, que até àquele dia tinham todos falado a mesma língua".
George Smith (The Chaldean Account of Genesis) [A Versão da Caldéia sobre o Gênesis] encontrou nos escritos do historiador grego Hestaeus um relato em que, de acordo com as "vetustas tradições", o povo que escapara ao dilúvio veio até Senaar na Babilônia, mas foi afastado dali por uma diversidade de idiomas. O historiador Alexander Polyistor (século 1 a.C.) escreveu que, antigamente, todos os homens falavam a mesma língua. Depois, alguns pensaram erigir uma enorme e suprema torre para que pudessem "subir ao céu". Mas o Deus principal frustra seus desígnios enviando um furacão, e a cada tribo foi dada uma língua diferente. "A cidade onde isso aconteceu foi Babilônia.”
Hoje em dia poucas dúvidas restam de que os contos bíblicos, assim como os relatos dos historiadores gregos de há 2.000 anos e do seu predecessor Berossus, derivam das mesmas antiqüíssimas raízes sumérias. A.H. Sayce (The Religion of the Babylonians) [A Religião dos Babilônios] apresentou um estudo sobre uma barra fragmentária do Museu Britânico, a "versão babilônica da construção da Torre de Babel". Em todas as circunstâncias, a tentativa de alcançar os céus e a conseqüente confusão de línguas são elementos básicos desta versão. Há outros textos sumérios que registram a deliberada confusão das línguas humanas como resultado da ira de um deus.
Presumivelmente, o gênero humano não possuía naquele tempo a tecnologia necessária para tal projeto aeroespacial; a orientação e a colaboração de um deus no conhecimento dessas técnicas era, pois, essencial. Teria um deus desafiado os outros para ajudar a humanidade? Um selo sumério descreve um confronto entre deuses armados, aparentemente devido à disputada construção pelo homem de uma torre de andares.
Uma estela suméria, agora em exposição em Paris, no Louvre, pode bem descrever o incidente relatado no livro do Gênesis. Foi construída por volta do ano 2.300 a.C. por Naram-Sin, rei da Acádia, e os estudiosos consideram que ela descreve o rei vitorioso sobre seus inimigos. Mas a grande figura central é a de uma divindade, e não a de um rei humano, uma vez que a pessoa usa um elmo adornado com chifres, a marca característica exclusiva dos deuses. Além disso, esta figura central não parece ser o chefe dos humanos (de menor estatura), mas antes parece espezinhá-los. Estes homens, por seu turno, não parecem envolvidos em nenhuma atividade guerreira: eles marcham em frente e estão adorando o mesmo enorme objeto cônico, no qual se focaliza também a atenção do deus. Armado com um arco e uma lança, a deidade parece olhar o objeto mais em atitude de ameaça do que de adoração.
O objeto cônico está apontado na direção de três corpos celestiais. Se seu tamanho, forma e objetivo indicam que se trata de um shem, então a cena retrata um deus zangado e completamente armado atropelando as pessoas que comemoram a ascensão de um shem.
Tanto os textos mesopotâmicos como a versão bíblica revelam a mesma mensagem: as máquinas voadoras eram para os deuses e não para o gênero humano.
Os homens, afirmam tanto os textos mesopotâmicos como os bíblicos, podiam ascender à residência celestial apenas sob o expresso desejo dos deuses. E a esse respeito existem muitos contos de subidas ao céu e até de vôos espaciais.
O Antigo Testamento registra a subida aos céus de vários seres mortais. O primeiro foi Enoc, um patriarca antediluviano a quem Deus favoreceu e que "andava com o Senhor". Ele era o sétimo patriarca na linha de Adão e o bisavô de Noé, herói do dilúvio. O capítulo V do livro do Gênesis lista as genealogias de todos estes patriarcas e as idades com que eles morreram, exceto a de Enoc, "que partiu, porque o Senhor o levou". Por conseqüência e tradição, foi na direção dos céus, para escapar à mortalidade terrena, que Deus levou consigo Enoc. O outro mortal foi o profeta Elias, erguido da terra e levado em direção aos céus por um "furacão'”.
Uma referência pouco conhecida a um terceiro mortal que visitou a divina residência e que foi dotado com grande sabedoria é fornecida pelo Antigo Testamento e diz respeito ao governante de Tiro (um centro fenício na costa oriental do Mediterrâneo). Lemos no capítulo XXVIII do livro de Ezequiel que o Senhor ordenou ao profeta que lembrasse ao rei como ele estava capacitado, perfeita e sabiamente, pela divindade a abençoar com os deuses:
Tu estás moldado por um plano
Cheio de sabedoria, perfeito na beleza.
Tu estiveste no Éden, o jardim de Deus;
Cada pedra preciosa era o teu bosque...
Tu és um sagrado querubim protegido;
E eu coloquei-te na montanha sagrada,
Como se fosses um deus,
Movendo-se por entre pedras de fogo.
Predizendo que o governante de Tiro sofreria uma morte "dos não circuncidados" pela mão de estrangeiros mesmo que ele lhes gritasse "Eu sou uma divindade", o Senhor explicou então a Ezequiel a razão disto: depois de o rei ter sido levado à residência celestial e de lhe ter sido dado acesso a toda a sabedoria e riqueza, seu coração "crescera arrogante", ele empregara mal sua sabedoria e profanara os templos.
Porque teu coração é arrogante, dizendo:
Um deus eu sou!
Na residência da divindade eu me sento,
No meio das águas.
Embora sejas um homem, não um deus,
Tu consideras teu coração como o de um deus.
Os textos sumérios falam também de vários homens aos quais foi dado o privilégio de ascender às alturas. Um deles foi Adapa, o "homem modelo" criado por Ea. A ele Ea "dera sabedoria; vida eterna não lhe fora concedida". À medida que os anos decorriam, Ea decidiu evitar o fim mortal de Adapa, fornecendo-lhe um shem com o qual ele deveria alcançar a celestial residência de Anu, para aí partilhar do Pão da Vida e da Água da Vida. Quando Adapa chegou à residência celestial de Anu, este perguntou quem fornecera a Adapa o shem com o qual pudera alcançar o celestial local.
Há várias pistas importantes a serem encontradas tanto nos textos bíblicos como nos contos mesopotâmicos das raras ascensões de mortais à residência dos deuses. Adapa, tal como o rei de Tiro, também foi feito de um "molde" perfeito. Todos tinham de conseguir e usar um shem - "pedra de fogo" - para alcançar o "Éden" celestial. Alguns subiram e regressaram depois à terra; outros, como o herói mesopotâmico do dilúvio, permaneceram lá fruindo a companhia dos deuses. Foi para encontrar este "Noé" mesopotâmico e obter dele o segredo da Árvore da Vida que o sumério Gilgamesh partiu.
A procura fútil pelos homens mortais da Árvore da Vida é o objeto de um dos mais longos e poderosos textos épicos legados à cultura humana pela civilização suméria. Chamada pelos estudiosos modernos "A Epopéia de Gilgamesh", o comovente conto diz respeito ao governador de Uruk, nascido de pai mortal e mãe divina. Como resultado, Gilgamesh era considerado "dois terços divino e um terço humano", uma situação que lhe concedia o direito de procurar escapar à morte, destino do comum dos mortais.
A tradição informara-o de que um de seus antecessores, Utnapishtim, o herói do dilúvio, escapara à morte, sendo transportado à celestial residência com sua esposa. Gilgamesh decidiu assim alcançar tal lugar e obter de seu antepassado o segredo da vida eterna.
O que o instigou a partir foi aquilo que tomou como sendo um convite de Anu. Os versos descrevem a observação da queda de volta à terra de um foguete usado. Gilgamesh descreveu a ação deste modo à sua mãe, a deusa NIN.SUN:
Minha mãe,
Durante a noite eu senti-me alegre
E eu andei por entre os meus nobres.
As estrelas reuniram-se nos céus.
O trabalho manual de Anu desceu na minha direção.
Eu procurei erguê-lo; era demasiado pesado.
Procurei movê-lo; movê-lo eu não podia!
O povo de Uruk reuniu-se à sua volta.
Enquanto os nobres beijavam suas pernas.
Quando ergui minha fronte, eles apoiaram-me.
Eu levantei-o! Eu trouxe-o a ti!
A interpretação do incidente pela mãe de Gilgamesh está mutilada no texto e é, deste modo, confusa. Mas, obviamente, Gilgamesh foi encorajado pela observação da queda do objeto, o "trabalho manual de Anu", a embarcar na aventura. Na introdução à epopéia, o antigo relator chama a Gilgamesh "o sensato, aquele que tudo experimentou":
Coisas secretas ele viu,
O que está escondido ao homem ele viu.
Ele até trouxe notícias de um tempo anterior ao dilúvio.
Ele fez também uma longínqua viagem, fatigante e sob dificuldades.
Ele regressou e gravou todo seu esforço sobre um pilar de pedra.
A "longínqua viagem" que Gilgamesh empreendeu foi, claro, sua jornada à residência dos deuses. Foi acompanhado pelo seu amigo Enkidu. Seu objetivo era a Terra de Tilmun, porque aí Gilgamesh podia erguer um shem para si próprio. As traduções correntes empregam o suposto "nome" sempre que nos textos antigos aparece o sumério mu ou o acádio shumu. Nós, no entanto, empregaremos shem para que o verdadeiro sentido do termo - um "veículo em direção aos céus" - possa transparecer: